16/11/2011

Acalanto de amor e paz













Acalanto de amor e paz

Nem sempre desejo seu verbo.
Aquele das palavras bem ditas,
Das rimas eruditas,
Das imagens perfeitas...
.......... Por vezes,
.......... Me bastam seu corpo, os cheiros
.................... E os suspiros cúmplices,
.................... Confessados aos travesseiros.

Nem sempre desejo seus olhos.
Aqueles que me excitam,
Convidam e fitam,
Com indisfarçável desejo.
.......... Por vezes,
.......... Me bastam a noite dos inocentes,
.................... O silêncio da submissão
.................... E nossos segredos indecentes.

Nem sempre desejo sua inquietude.
Aquela que busca as verdades,
Que foge das ambiguidades
E se deprime com a falta de justiça.
.......... Por vezes,
.......... Me bastam seu ventre, sua boca molhada,
.................... Uma discreta confissão
.................... E um afago parido do nada.

Por que na vida, amor,
Nem sempre é sempre.
Aquela coisa previsível,
Monótona, lógica e tangível.
.......... Por vezes, o sempre
.......... É bastante simples:
.................... Basta que seja você,
.............................. Amanteamadamente sempre.

Anderson Fabiano

Imagem: Google

15/09/2011

Um setembro em Blumenau

Um setembro em Blumenau

Agora chove!
Não a chuva impiedosa,
Destruidora,
Mas, chove.

Minha gente, loura gente,
Tedesca e solene,
Vê o cinza roubar o azul
E teme.
(Sequelas de uma tragédia recente).

Agora chove!
Mas chuva mansa, arrependida,
Quase um pedido de desculpas.

A moça loura sorri e segue.
A laranjeira agradece
E se permite florar.

E a Poesia, enfim,
Pode, simplesmente, 
Ir e voltar.

Anderson Fabiano

Imagem: Acervo do autor


24/08/2011

Confissões... (...a Neruda)

Confissões...
..........(... a Neruda)

Nada sei de Neruda
Senão a Poesia que nos une
E que nos faz tão distantes...

..........Mas, sei de vidas confessadas.
..........De sombras que perseguiam,
..........Dos salões cinzentos
..........E hangares cruéis que insistiam
..........Em se despedir, sem chegadas.

Sei da língua muda.
Escondida em sacros quadris,
Onde nascem o trigo,
E a força de tantas paixões eriçadas...
..........Mas, nada sei de Neruda.

Do mar, sei as ondas.
Crespas melenas,
De minha Helena.
E as velas,
Alvas, esvoaçantes e humildes
Como as de tua Matilde

Mas, do mar sei também o sal...
O mar é sal.
Lágrimas do poeta que pranteia
Sem respostas,
Perguntas que insistiam na areia.

..........Nada sei de Neruda.
..........Mas, também da luz nada sei,
..........Nem de onde vem,
..........Nem para onde vai.

Mas, sei de paredes nuas,
Camas vazias e silêncios
Verdades minhas e suas.
E segredos, muitos segredos,
Guardados qual sussurros,
Em fendas d’alma em degredo.

Nada sei de Neruda.
Mas, queria ter com ele...
Ainda que por uns segundos,
Aqui ou quem sabe, no infinito,
E em reverencial silêncio,
Confessar que eu,
..........Assim como a Poesia,
....................Também o necessito.

Anderson Fabiano

Imagens: Google, editadas pelo autor 

[Poema publicado na II Antologia "Mil Poemas para Neruda" - ed. 2011, organizada pelo poeta chileno Alfred Asís, Cónsul de Isla Negra y Litoral de los Poetas - Poetas del Mundo, lançado no Chile em 09/Julho/2011]

07/08/2011

Os diamantes se foram... / Vestígios...

















Em 07/08/09, quando esse dueto foi postado pela primeira vez, o Recanto das Letras testemunhou a aliança de duas almas, duas vidas que se reencontravam, como afetos prometidos pela eternidade.

Hoje, dois anos depois, aquelas duas vidas, reunidas pela Poesia, contemplam juntas o brilho de cada manhã, numa relação (di)amantes, serena e harmoniosa, numa prova real de que o amor, quando sincero, doado e cúmplice, vence qualquer barreira.

Anderson Fabiano e Helena Chiarello


Os diamantes se foram...
....................Anderson Fabiano


Inda sinto suas mãos,
Salpicando minha pele,
Com pequenos diamantes,
Ornando meu templo
De prazeres secretos.

Os lábios conservam o gosto
Do último champanhe,
Misturado à saliva que ficou,
Impregnada num 3 X 4,
Do último beijo...

Menos mal, que seus olhos,
Só os vejo,
Quando abro os meus.
E, depois dali,
Fiz-me cego.

Há um suspiro suspenso no ar...
O último suspiro,
Do último gozo,
Da última noite
Daqueles amantes...

Depois dali,
Apenas noites nubladas,
Pequenas mentiras...
Num céu sem diamantes,
Sem estrelas na pele...


Vestígios...
....................Helena Chiarello


Minha pele ainda guarda
o arrepio dos teus dedos
e meus lábios ainda mordem
a memória do teu beijo.

A lembrança - tatuada,
despida e desarrumada,
fica a contar em meu corpo,
das tuas mãos, os sinais.

E há essa esperança oca
(que reclama e quer tua boca)
tão teimosa em esquecer
o que já foi - e não é mais.

Com ousada intimidade,
hoje me toca a saudade.
(E meus compridos suspiros
são os ecos dos teus ais...)


Imagem: Google

19/05/2011

Confissões



Confissões

Me encanta ser humano.
Saber da falibilidade,
Esquecer as coisas,
Assumir meus contrastes e irreverências.

Me encanta haver tido a coragem
De aceitar a poesia em mim,
Com todos os seus riscos e confidências.

Me encanta saber que vivi toda uma vida
Esperando sua chegada,
Seu retorno de viagem tão longa,
Mesmo sem saber se você existia.

Me encanta, enfim, o despertar do dia,
O saber de novo o melhor caminho,
O receber, em confiança, o privilégio
De privatizar seu melhor carinho.

O sonho acordou e se fez realidade.
E minhas mãos, doce amada,
Desarmadas e nuas,
Estão aqui,
Ao alcance e reféns das suas.

Anderson Fabiano


Imagem: Google

18/04/2011

Indignação



Indignação

....................Poesia, limite tênue
....................Entre verdade e fantasia.
....................Por vezes, armadilha.

Palavras amontoadas,
Ingaias palavras,
Tomando emprestadas
Máscaras de inocência
Para as maldades disfarçadas.

....................Vida é coisa de tempo.
....................Assim,
....................Princípio, meio e fim.

Finge a ignorância
Dos limites que separam
O real e o irreal.
E por falta de escrúpulos,
E pura cafajestagem,
Finge misturar
Autor e personagem.

....................Não basta o dedo em riste.
....................Ninguém pretere
....................O que não existe.

Aleivosias insanas,
Rondadas por chulas chicanas,
Não cabem no sossego,
Nem corrompem a harmonia
De paixões nascidas
Da mais pura alquimia.

....................Príncipes, cervos, solstícios...?
....................Palavras vãs
....................Servas de manifestos malefícios.

Entendo as Letras
Que brindam o amor,
Encontros e desencontros, talvez...
Mas palavras amontoadas
Por puro sortilégio
Não sobrevivem ao tempo,
Muito menos à razão,
..........Pois apenas são
....................Insanos sacrilégios.

Anderson Fabiano


“Perder-se... Ninguém acha o caminho certo sem se perder antes”. Fabrício Carpinejar

Imagem: Google

24/03/2011

Olhares de Myra



Olhares de Myra

É como um primeiro silêncio,
Um primeiro olhar,
Um primeiro rosto,
Um saber gostar...

Um pedaço de terra
No papel de areia,
Numa terra distante
Que uma luz candeia...

Ou talvez, quem sabe,
Nos restos de obus,
Última gota de sangue
(Re)velada num capuz...

............... (Ou apenas, talvez,
............... Um sudário moderno,
.................................... Talvez...)

É como um primeiro silêncio,
Um primeiro chorar,
Um primeiro desenho,
............... Um saber olhar...

Anderson Fabiano

Imagem: “Meu primeiro desenho feito aqui”, de Myra Landau. Jerusalém, março/2011. 21 cm X 29 cm. Técnica mista, nankin sobre papel embebido em azeite.

Obrigado, Myra! Sua imagem é pura poesia.
.

03/03/2011

Pra você, amada minha

.
.......................... "A vida não é brincadeira, amigo.
.......................... A vida é arte do encontro
.......................... Embora haja tantos desencontros pela vida..."

.......................... Samba da Bênção - Vinícius de Moraes e Baden Powell

Dedicado, mais uma vez e perenemente, à minha mulher Helena,
por me permitir, após tantos involuntários equívocos, tirar estas letras do plano abstrato e colocar, finalmente, o nome dela na penúltima estrofe.

Anderson Fabiano



Pra você, amada minha

Guerreiro forjado em batalhas tantas
Repouso enfim, minhas armas.
Deito a lança, aposento a espada
E recostado sobre o escudo
Cicatrizado de embates tantos
.......... Inventario os equívocos.

É doce perceber as missões cumpridas
Numa vida de cruéis enfrentamentos.
Combatente multifacetado
Fui “Maquis”, bolchevique,
Legionário e gladiador.
E até, mercenário.
Mas, samurai de um só Mestre
.......... O Amor.

Vasculho as mazelas,
Garimpo virtudes
E sorrio, enfim:
.......... Amei uma só mulher!
E, ainda que tivesse tantos nomes,
Tantos corpos, tantas caras,
Foi sempre a mesma
Tomada de meus braços,
.......... No minuto final da Atlântida.

Varei séculos
Entre o mitológico e o real
Ouvi todas as vozes
Provei todas as carícias
Beijei todas as bocas
Invadi (nem sempre consentido)
Todos os corpos
.......... E, finalmente, sei de você, Helena.

O amanhã já não importa
Achamo-nos e somos eternos.
Sabemos nossos nomes,
Nossos sons, nossas formas.
E escudados no providencial silêncio
Somos enfim, o prometido par
.......... De outros tempos.

Anderson Fabiano

Imagem: Arquivo do autor

01/03/2011

Ode à Loucura



Ode à Loucura

Não é na Loucura
Que mora a insanidade
Mas, no modus leviano
Com que vivemos
.......... Nossas loucuras.

Na loucura dos Raros,
.......... A centelha essencial.
Sacra, transformadora,
Que põe brilho nos olhos do Poeta
.......... E, na alma louca,
............... A face redentora.

Na loucura dos Medíocres,
.......... O estado bestial.
Personas sem norte,
De Anima animal,
.......... Almas Loucas sem rumo
............... A espera da morte.

Amo ser Louco,
.......... Pois Poeta e Raro!
Mas, pranteio aqueles outros,
Zumbis imprestáveis
Pra quem
.......... Nem a Poesia
............... Dá-lhes suporte.


Anderson Fabiano


Imagem: Google

29/01/2011

Tempos, certezas e flamboyants















Tempos, certezas e flamboyants

Não importa o tempo
E sim, o viver.
Nem a vida importa
Mas o sentir, o ser...
Pois no tempo de dizer agora,
Já é tarde, já é antes...

..........Canto, voo, ovo, novo canto
..........Tempo de plumas e cor.
..........Broto, terra, adubo, novo tronco
..........Tempo de folha e flor.

O ontem se perdeu no tempo
Como equívoco pretérito.

E hoje, diante dos olhos,
..........No jardim,
Rubro verde flamboyant
Se fez vida em mim,
Com jeito, sombra e cheiro
Da manhã que busquei
..........E encontrei, enfim...

Anderson Fabiano

Imagem: Foto de Helena Chiarello

11/01/2011

Tuas dores minhas

Tuas dores minhas

Não me peças dos pecados.
Desses,
sei princípio, meio e fim.
E padeço
no aprendizado da remissão.

Não me peças das culpas.
Os divãs da vida
restam encharcados
de desespero e confissão.

Nem me peças dos desvios.
Encurtei o todo
na ânsia do amanhã
e, em desvarios,
perdi-me de mim mesmo.
Não sei do trigo ou do farelo no chão.

.....Mas sei dos perdões.
.....Dos que te devo
.....e dos que te clamo.

Devolve, pois,
teu sorriso ao meu destino,
pois tua dor,
quando parida
de meus desatinos,
é bem maior em mim.

Anderson Fabiano

Imagem: Google

À minha mulher Helena, meu melhor amor.  A. F.