14/01/2010

A menina e o amor


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A menina e o amorUm conto contemporâneo.
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Era uma vez uma linda menina lourinha nascida lá pelas bandas das terras do sul. Rostinho de alvura imigrante rosetado pelo sol do campo, emoldurado por cachinhos dourados que em-prestavam candura de imagem de calendário, pra uma essência recém chegada, plena de planos pro amor.

A menina lourinha cresceu acreditando no amor e esperando dele coisas que dariam sentido a sua vida. Os primeiros amores foram mais que compensados. Amor de pai, de mãe, de irmãos, de amiguinhos tão moleques, quanto necessário e tão próprios quanto merece uma infância.

A vida fez a parte dela e a menininha dourada também. Cresceu e foi mocinha sem nunca abrir mão de esperar o amor.

Na pressa de ser gente grande, nem sabe ao certo se a vida já lhe mostrara o tal amor. Mas, ela esperava.

A mocinha então, amanheceu mulher, num outono qualquer. Sempre lourinha, cacheada e esperando o amor. E amor chegou. Sem cavalo branco, sem espadas reluzentes, sem “olhos verdes e fixos” de um Neruda idealizado, nem tão príncipe, muito menos encantado. E a menina lourinha entendeu haver chegado o amor.

O tempo fez a parte dele e a menininha cacheada também. Acreditou em cada amanhã, em cada nascer do sol, em cada beijo recebido, perdido ou roubado... E uma gota de chuva, de uma manhã imprecisa confidenciou-lhe que o amor, aquele que a menininha dourada queria tanto, inda não havia chegado.

A menina, que foi moça e depois mulher, correu sem destino pelos trilhos abandonados pelo velho trem de sua infância mágica, encontrou um tronco seco, sem o viço de outrora, sentou-se sob sua sombra insegura e chorou a ausência do amor.

Acreditando poder encontrá-lo, singrou veredas, atalhos, desvios, supôs-se feliz aqui e ali, contentou-se com átimos furtados de outros amores, que foram seus em jornadas fugazes, sempre sabendo que o tão esperado, inda não havia chegado.

Um dia, o amor chegou! Viera de outras terras, com feições bem diferentes daquelas sonhadas na infância deixada nos campos daquelas terras do sul. Anunciou-se, não foi reconhecido e sorriu-lhe tantas vezes quantas se fizeram necessárias. A menininha, que foi moça, que foi mulher, que pensou haver encontrado o amor, que quase o desacreditou, não soube o que fazer dele.

O amor, então, sentou-se à soleira de sua porta e contemplou a menina dos sonhos distantes. Ela, dourada como sempre, entrou e saiu tantas vezes daquela casa que acabou acostumando-se com a presença do amor sentado à sua porta, sorrindo-lhe todas as manhãs e esperando.

O amor continua lá. Presente, insinuante, lançando seus sinais.

A menina já não corre tanto e empresta um bom tanto do seu tempo praquele estranho. E ele, com sacra paciência, apenas espera pela menininha dourada, que esperou tanto por ele que ainda não soube que seu sonhado amor, finalmente, chegara.
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Anderson Fabiano
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Dedico este conto à brilhante poetisa Helena Chiarello, minha eterna fonte de inspiração.
Leninha, com todo meu carinho, te beijo, então.
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Anderson Fabiano.
Imagem: Getty
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9 comentários:

ASAS disse...

Que lindo blog, perfeitoooo, e será que eu conheço essa menininha do sul, conheço uma parecida, rs bjus fabiano, ta lindo o blog lindo tudo, parabéns... ah, voltarei sempre.

Maria Helena Sleutjes disse...

Que beleza este seu blog, Fabiano! Um espaço encantador. E esta menina que vive a espera do amor, quem seria? Seríamos todos nós, que muitas vezes não sabemos tirar as lentes de nossa visão? Seríamos todos nós, buscando a realização tão sonhada, a infância perdida, os sonhos soterrados?
Você escreve divinamente!
Bjos

Helena Chiarello disse...

Cada palavra desse conto remete o pensamento a uma infância que queríamos sempre presente e viva no coração, pela beleza e pela pureza de cada sonho que nos deu...
E a essência de tudo o que disse é acolhida com emoção por uma maturidade que ainda guarda no coração a melhor parte de cada sonho – e acredita que realizá-los é bom e possível. E por ser assim, deseja aprender o melhor abraço para acolher o amor que está ali “na soleira da porta, sorrindo todas as manhãs e esperando”...
Um beijo, doce como a lágrima que ficou aqui, comovida a essas linhas e a tudo o que elas representam.
Tuas palavras sempre emocionam, porque tocam, por dentro, o coração.
Com todo meu carinho, te beijo, então...
Helena.

Flor.MCecilia disse...

Parabéns moço por esta casa Maravilhosa..aqui podes ter seus segredos longe dos olhos dos poetas..Assim este conto marca uma presença forte e marcante no teu mundo das letras.Sucesso.||Bjus\Flor**
A como moro aqui do lado,pensei em seguir-te,mas não tens editado seguidores..paciência..
Estou aqui no Jardim do Amor**
http://aflorenigmatica.blogspot.com

mundo azul disse...

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Gostei! Gostei muito da sua história... Apesar de ter sido inspirada na Helena, alguém que prezo muito, como pessoa e escritora, ao ler o seu texto vi, a minha própria história desfilando ante meus olhos.


Obrigada, pela excelente leitura, Fabiano!


Beijos de luz e o meu carinho...


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ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Caro amigo.

O bonito de um texto é quando chegando de mansinho, nos prende a atenção pelo afeto de suas palavras e pela ternura de sua mensagem.
Textos assim se justificam.

Muito bonito o seu espaço.
Palavras simples que falam ao coração.

Parabéns.

Anônimo disse...

Helena Araújo é uma pessoa linda por dentro e por fora, além de uma escritora fantástico. Por aqui só encontrei beleza. Meu abraço, caro amigo. Helena Luna

Unknown disse...

A pessoa que indicou o blog disse que era especial e estou vendo que é mesmo... rsrsr
Adorei ler esse conto!!!
Um amor muito bonito, Anderson.
Um abraço da Cleo ;)

Jorge Sader Filho disse...

Um conto, Fabiano? Eu diria uma bela crônica, mas como eu disse no meu texto, que nomeia é o autor!

Abraço.