14/11/2010

Duas ou três coisas que sei dela























Duas ou três coisas que sei dela

Sei de sua pele de Lua
Em madrugada de estrelas,
Quando entregue e nua,
Sorri criança
No corpo de mulher.

Sei que proclama em silêncios
Instantes singulares
De poesia pura,
Guardados por existências tantas
E revelados apenas
No palco secreto
Do Teatro dos Raros.

Sei que seu colo
Ancora meus segredos,
Seu toque me expande,
Abate meus medos
E seu olhar resgata
O cristal perdido de mim.

Mas, sei também,
Que nas noites,
Quando os comuns se recolhem
Em seus leitos sem cor,
Ela me chega e amansa
Qual onda mansa de fim de tarde...
E faz-me seu.

Anderson Fabiano

Imagem: Google

Desde os tempos de cinéfilo godardiano, amo esse título de Jean-Luc Godard, "Deux ou trois choses Que Je Sais d'Elle - 1967". Hoje, fiz dele minha poesia.

03/10/2010

Stella mia























Stella mia


Abandonei meu estado de noite
Pra voltar a ser dia
.....E merecer teu brilho...

Agora, me faço noite
Quando tua estrela me convoca,
Teu olhar me convida
E tua pele roga
Meus toques profanos
Nos teus sacros seios,
Que, eclipsados,
Somem, consentidos,
.....Entre meus dedos pagãos...

Anderson Fabiano

Imagem: Google

11/09/2010

Tocata



Tocata

Toquei-te, então,
Pecado e virtude
Em intervalos imprevistos,
Assimétricos,
.....Imprecisos,
..........Sonoros...

Quebrei-te o silêncio, então,
Com teclas desordenadas,
Órfãs,
Sem partituras...
.....Apenas música
.............Pra alma.

E sorristes, então,
.....Minha melhor canção...

Anderson Fabiano

Imagem: Google

Dedicado à minha mulher Helena, na atmosfera do livro
"A Genealogia do Piano", dos amigos Lícia Lucas e Marne Serrano.

01/08/2010

Santa fúria





















Santa fúria

Contemplo a fúria que me ronda
Com o enlevo dos reles mortais.
.....Não a fúria terçã, odiosa, assassina,
..........Mas, aquela que alucina.


Subordino-me ao desejo
Sou gozo e delírio
.....E faço da entrega
..........A oferenda justa, merecida.


Entorpeço-me refém,
Numa viagem sem volta,
.....Furiosa, insana...
E consumo seu corpo,
Como se a vida,
.....Desmedida
Houvesse chegado, enfim,
Nessa forma louca
.....Que só você
..........Soube ser pra mim.

Anderson Fabiano

Imagem: Google editada pelo autor 

20/06/2010

Obrigado, silêncio


















Obrigado, silêncio...

Resgatei-te na memória cármica
Revendo fragmentos deixados na alma
Escondidos, protegidos, ungidos em Paz.
Numa paz que me roubaram,
Quando te tomaram de mim.

Redesenhei-te, então,
Através dos tempos,
Amparado pelos silêncios
Das tantas solidões
Que tua ausência me impôs.

No mesmo silêncio,
Que com seu sibilo secreto
Recantou-me tua voz
E renasceu-me na certeza da tua presença,
Não mais longínqua ou tênue ou incerta...

Mas, foram teus melhores odores
Que destinaram um sorriso
Aos meus lábios cansados
De proferir teu nome sem eco,
Sem respostas, ávidos de teus beijos,
Perdidos em outros tempos.

Então, soube de ti
Pelo almíscar revelado,
Pela mão estendida,
Pelo abraço que, tardio,
Sempre soube que um dia
Voltaria ao laço
Que nos faria unos,
Como da primeira vez.
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Anderson Fabiano
 
Imagem: Google

Este texto se complementa com o poema "Eternos",
de Helena Chiarello, postado em Revelar.
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29/05/2010

Lápis




















Lápis

Amarga-me rever na janela do tempo,
A quantos de ti condenei à morte,
Em reles tocos, abandonados ao relento,
Trocados pela efemeridade infantil
.......... De criar bailarinas paridas
.................... Em inocentes apontadores.


Agora, quando o tempo bate-me à janela,
Denunciando todos os tempos idos...
.......... Quando nem todos os desejos
.................... Se traduzem...
E as noites se alongam
.......... Em traduções simultâneas
.................... Da melhor paixão que soube preservar,
Reverencio-te parceiro
.......... De meus dons prescritos
.................... E sei-te sábio,


Pois, um lápis é uma infinidade de poemas,
.................... Estupidamente, não escritos...

Anderson Fabiano 


(Um mimo poético para a frase “um lápis é uma infinidade de poemas não escritos”, roubada dos rascunhos de Helena).

Imagem: Gethy

03/05/2010

ReVoar














ReVoar

No voo que ninguém pensou
Uma liberdade nasceu,
..........Imprevista,
Sem rumo certo.
Mas, com destino sabido:
..........O amor buscado.


Na asa que ninguém percebeu
O abraço novo
..........Do amante imprevisto
Sem origem certa
Mas, o verbo esperado:
..........O amor doado.


No encontro que ninguém previu
O céu se apequenou
..........Pro par imprevisto
Origem e destino
Enfim, irmanados
....................E asas reveladas.

Anderson Fabiano

Estas letras deitaram-se à minha frente, após leitura de um conto de Lya Luft. AF

Imagem: Gethy (edição: Anderson Fabiano)

04/04/2010

Partu poeticu


















Partu poeticu (Parto poético)

Onde fica a melhor rima?
Onde está a palavra que inda não vi?
Que cara tem a encruzilhada,
Entre a essência e a letra?

Há uma emoção transviada
Sentimento estranho
Inquietude de entranhas
Que bolina a alma
Intimida o poeta
Provoca e acua a velha pena.

Letras escondidas,
Camufladas, escamoteadas
Em cínicas inverdades
Que precisam ser paridas
Antes que a demência
Me roube o melhor verso.
Aquele que sei,
Nunca escrevi.
.
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Anderson Fabiano
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Imagem: Google
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26/03/2010

Helenas



Helenas

Paridas numa Grécia distante,
Cruzaram, deusas, inúmeros tempos
E, a cada, instante,
Se fizeram humanas
Pra deleite mundano dos poetas.

Sacras fêmeas,
Voláteis, efêmeras,
Desfilaram inquietudes
Com ventres que doaram vida e prazer
E choraram nossos prantos.

Seres que flutuaram etéreos,
Avassalando o bom senso
E irrompendo, ousadas,
Ora florais, ora almiscaradas,
O sentido do entorno.

De tantas Helenas,
Tenho uma...
Una, estrela singular
Desse palco que chamei vida.
Dádiva de Mecenas,
Sem ruivas ou longas melenas,
Plantada ness’alma, outrora, ermitã,
Como doce magia pagã.

Então, por mágicos instantes,
Mimetizo o fulgor que me invade,
Sou mago, poeta e amante
E, em cada poro que arde
Recebo seu gesto
Para ser, como ser,
.....Enfim,
..........(Com) sagrado.

Anderson Fabiano
Imagem: Helen of Troy, de Evelyn De Morgan, Wikipedia

22/03/2010

Logo depois daqui...



Logo depois daqui...

Quanto desconsolo
Cabe, amontoado,
No coração do poeta?

Quanto pranto
Cabe, num sorriso disfarçado,
No aceno da partida?

Conheço da lágrima
O gosto de mar, salgado,
Que sulca a face
Rumando pro nada...

Sei do beijo que parte
Na intenção
Do sorriso emoldurado
E, se perde,
No esmo da distância indesejada.

Consola-me, então,
Me debruçar nos amanhãs,
Com olhar compensado,
No inadiável reencontro
Do seu gesto em poesia
Dormindo indefeso
E despertando, cúmplice,
..........Ao meu lado.

Anderson Fabiano
Imagem: Por do Sol, Lagoa de Araçatiba - Maricá, em click de Helena Chiarello

Espero você no meu novo espaço:

http://letras-profanas.blogspot.com

15/03/2010

(In) permanências


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... e mais um poetrix voou..
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Anderson Fabiano
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Imagem: Google

10/03/2010

Brilhecências...


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Meu segundo atrevimento poetrix... Espero que gostem! A.F.
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Imagem: Gethy
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08/03/2010

Poetas, amores e a mulher



Poetas, amores e a mulher

Poetas vasculham a vida atrás do amor
E amor tem destino,
Nome, cheiro e desatino.

Poetas buscam a mulher perdida
Em tempos outros,
Extraviada na frágil memória,
..........Que não se quer...

Poesia, seu nome é mulher!

Tolos homens aqueles,
Que creem em suas armaduras...

Somos nós, os frágeis!
O planeta é fêmeo,
Etéreo, efêmero,
..........Segredo feito de mães e amantes...

Tire do poeta, a mulher
E a poesia de esvai...

... Não! A poesia vive!

Nas mãos doces e cúmplices
..........De uma mulher.
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Anderson Fabiano

Hoje, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, esse meu esconderijo poético - Amo sim, completa dois meses de existência. Quase 3000 visitas, não sei quantos comentários, dezenas de novos amigos.

Por isso, peço licença à minha Helena, para dedicar esse momento a todas as mulheres que por aqui passaram: as que vieram, as que gostaram, as que comentaram, as que espiaram, as que passearam anônimas por entre minhas letras e até as que invejaram o meu amor por uma mulher.

Um beijo no coração de cada uma.

E, a você Helena, amiga, parceira, confidente, poeta, amante e mulher meu peito aberto, o gesto, a gratidão, a mão cúmplice estendida e o corpo doado.

Anderson Fabiano
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Imagem: Gethy

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03/03/2010

Sonhos de chumbo


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...............................................“...Mas não diga nada
...............................................Que me viu chorando
...............................................E pros “da pesada”
...............................................Diz que vou levando...”
...............................................Samba de Orly - Chico Buarque,

...............................................Toquinho e Vinicius de Moraes


Sonhos de chumbo

Roubaram minha inocência
E não souberam o que fazer com ela.
Violaram minha esperança,
Tentaram frustrar meu depois...
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Hoje, enfiados em seus pijamas estrelados
Contentam-se com missas de domingo,
Filhos obedientes às mesas anistiadas
E esposas submissas e caladas.
.......................todos, sem céus sobre as cabeças.
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Profanado em minha essência,
Fui lugar vazio na mesa das Mães de Maio,
Joguete em calabouços fétidos
Mas, refiz meus amanhãs...
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Hoje, dormindo nu e livre
Faço amor das cicatrizes
E poesia com as estrelas
Que roubei de seus ombros
....................E devolvi, vingado, aos céus.

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Anderson Fabiano
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Imagem: Google

28/02/2010

Nós é dois...


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Aqueles que acompanham meu trabalho sabem que
não sou dado à Poetrix. Entretanto, a estreita convivência
com uma das melhores autoras desse gênero, Helena Chiarello,
e sua inesgotável paciência (e persistência) me estimulou
a arriscar "Nós é dois...", meu primeiro Poetrix.
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Espero que gostem.
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Meu carinho,
Anderson Fabiano
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Imagem: Gethy

24/02/2010

Encontros, afetos e manhãs



Encontro, afetos e manhãs

Quando meus pés cansados,
Feridos e sem rumo,
Precisaram de um bálsamo,
..........Foram suas mãos que o acarinharam
..........E sua língua que lambeu as chagas.

Quando precisei de ar,
Encontrei seu peito,
..........Doado e sem contrapartidas.

Quando precisei de um depois,
Um norte, um cais,
..........Foi por sua esperança
..........Que fui conduzido.

Quando precisei de um céu
Sobre minha cabeça erma,
Tola e sem serventia,
..........Você se fez estrela pra mim
..........E convenceu-me da caminhada.

Por esse nosso encontro...

Foi no travesseiro do lado,
Que você encontrou
..........sua melhor paz.

Foi no meu olhar cúmplice,
Que você se refez
..........dos desamores tantos,

E foi no meu peito
Que sua mão aninhou-se
..........para dormir suas melhores noites.

Então,
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Cada um de seus poros
Confiou-me o melhor sorriso,
Nas manhãs.
..........E, nas noites,
..........Seus melhores segredos e suores...

Simples assim...
..........Como um afeto prometido
....................Pela eternidade.
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Anderson Fabiano
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Esta poesia foi inspirada em "Então, estrelas" de Helena Chiarello e a ela é dedicada. AF
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Imagem: Pesquisa: Helena Chiarello, Arte: Anderson Fabiano
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18/02/2010

Silêncios, mistérios e (en)cantos



Silêncios, mistérios e (en)cantos


Há silêncios que escolhemos

Outros, apenas nos chegam...


Pássaros encantados

Estão nas árvores próximas.

E teem sons que precisamos ouvir.

Apura, pois, teus ouvidos

E escuta os pássaros que rompem o silêncio...

..........Eles revelam teus segredos.


Há momentos que escolhemos

Outros apenas nos chegam...


Vida é selva

De árvores alheias e distantes: nós!

Tolos, soberbos e sós.

Cremos saber cantos que vamos ouvir...

Apura, pois, teus ouvidos,

Sou teu pássaro encantado

..........E tenho mistérios teus pra contar...

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Anderson Fabiano

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Imagem: Google

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Escrito e postado em Blumenau

11/02/2010

Los ojos de Beatriz



Los ojos de Beatriz
(Versión en español. Abajo, en el original en português)

Quería a ser puro…
¡No santo! Pero puro.
..........Apenas puro.

Los placeres de la carne
Y las pasiones intensas
..........Todavía mueven mis instintos.

Quería de vuelta al niño que hay en mí
Aquél que dibujaba en las nubes
..........Y confiaba en la gente…

"Deseé crecer, sin perder la ternura",
Pero, creo que lo perdí…

Quería inclinar mi mirada sobre un balcón
Ver las alegrías o las tragedias de cada uno
Y a transmutarlas, en un idioma universal,
..........De Paz, sutileza y candidez

Quería saber la medida justa
Entre lo sacro y lo profano,
Y, incluso mundano,
..........Cargar mis versos de dulzura...

Sé que otra vida me espera,
Luego después de aquí
Así que por único favor:
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Cuando esta vida estuviera a un triz,
Me dejaran ver el mundo
..........Al menos por un segundo.
....................A través de los ojos de Beatriz.
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Anderson Fabiano
Adaptación: Xiomara Beatriz

Esta poesía está dedicada a mi amiga Xiomara Beatriz, una mujer de que aprendió ver la vida con los ojos del alma.A. F.

Os olhos de Beatriz

Queria ser puro...
Não santo!
..........Apenas puro.
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Os prazeres da carne
E as paixões intensas
..........Ainda movem meus instintos.

Queria de volta o menino de mim
Aquele que desenhava nas nuvens
..........E confiava nas pessoas...

“Quis endurecer, sem perder a ternura”,
Mas, acho que a perdi...

Queria debruçar meu olhar
Por sobre uma varanda,
Ver as alegrias e tragédias de cada um
E transmutá-la, num idioma universal,
..........De Paz, leveza e candura...

Queria saber a medida certa
Entre o sacro e o profano,
E, mesmo mundano,
..........Carregar meus versos de doçura...

Sei que outra vida me espera,
Logo depois daqui.
Assim, peço um único favor:

Quando esta vida estiver por um triz,
Me deixem ver o mundo,
..........Ao menos por um segundo,
....................Pelos olhos de Beatriz.
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Anderson Fabiano

Esta poesia é dedicada à minha amiga Xiomara Beatriz, uma mulher que aprendeu a ver a vida com os olhos da alma.A. F.
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Imagem: Montagem sobre tela de Brueguel (Provers)

08/02/2010

Vozes, vazios e um depois


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Vozes, vazios e um depois

Vozes perambulam na cabeça.
Desconexas, sem sentido, nuas...
Anônimas, como vozerio das ruas...
..........Nenhuma voz me chama
....................Nenhuma me inflama...

Seios sem par, ventres partidos,
Mãos, coxas, olhares atrevidos...
Cenas dignas de Dali,
..........Mas, nenhuma figura se cria
....................Ou renasce pra mim,
..............................Nem real, nem fantasia.

Não me chegam mais
Sabores almiscarados,
Cheiros agridoces,
..........Nem gotas de suor
....................Tombam no travesseiro do lado.

Reduzo-me, então,
Ao meu Eu fetal,
Silencio a poesia
Entrego-me ao vazio abissal,
Morrendo, assim,
Naquele que creio,
..........Ser o melhor de mim...

Vazio, sem rumo certo,
Clamo por um depois,
..........E sei alguém por perto!

Anuncie-se pois...
(Sem sombras ou fantasmas)
..........E reúna logo,
....................Nossos dispersos plasmas.
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Anderson Fabiano
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Imagem: Google

06/02/2010

Amores, prantos e despedidas


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Amores, prantos e despedidas

Amores se vão
Vãos...
..........Tão vazios de mim...

.............Então, pranteio palavras
....................E sangro poesias...

Outros amores se acercam
Plenos...
..........Tão sedentos de mim...

.............Então, preparo a alma
....................Pras dores do porvir...

Até quando?
..........Se já é logo ali
....................Meu tempo de partir?...

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Anderson Fabiano
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Imagem: Gethy

02/02/2010

Palavras, farsas e silêncios


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Palavras, farsas e silêncios

Tu queres poesia?
Então, perfuma-te num longo banho,
Despe tua mais sedosa camisola
E deita teu belo corpo naquela cama.

..........Sim! Aquela, onde enfrento meus medos
..........Todas as noites
..........Sem teu hálito doce e só.

Agora, abre teus braços
E oferece teus seios
Com teu melhor olhar...
E cala minhas palavras
Com os beijos
Que te levarão pra bem longe daqui.

Confia-me teu ventre
Às luxurias que aprendi nos bordéis,
Onde jamais pisastes...
..........E entreabre tuas pernas
....................Relevando-me teu melhor abismo...

Tu queres poesia?
Então, receba a poesia que te cabe!
..........Sente como ela te avassala!
....................Te corrompe, te reduz a simples fêmea.

Percebes a poesia, agora, dentro de ti?
Pois, ela é tua! Somente tua...
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... E eu te espero...
Nesse movimento contínuo
De certeza, dúvida...
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...Até que a tua meretriz
Libere o urro que trazes
Preso à garganta,
Parido de tuas entranhas
E liberte teu melhor orgasmo.

...Louco? Eu?
Não, apenas um raro
Um poeta, talvez amante...
..........Mostra-me um poeta
....................Que não seja louco,
..............................Que te mostrarei um farsante!
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Anderson Fabiano
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Imagem: Getty

30/01/2010

Adagas



Adagas
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Sempre tremo,
Quando as letras me chegam muito fáceis,
Rimadas, prontas.
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Não raro,
São acompanhadas de dores lacerantes,
Que desarrumam a alma
E me roubam os sentidos
Das coisas que amo.
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Sobram sós,
............. As poesias.
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Anderson Fabiano
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(Em plena madrugada havia uma voz de mulher me chamando... mas, não confessou seu nome... dormi, então...)
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Imagem: Google

24/01/2010

O amor e o mar




O amor e o mar

Não me venhas falar de amor,
Muito menos de paixão,
Sem confessar, primeiro,
..........As vezes que o mar te tragou.

Paixões são pra corsários
Intrépidos, raros...
Não há espaço pra amadores,
..........Mas, pros amantes sem pudor.

Naveguei muitos mares,
Conheço de alguns,
As armadilhas.
Mas, busco meu cais.
E é lá que faço meu norte,
Enfrentando as tormentas,
..........Que assolam meu casco
..........E me colocam de frente com a morte.

Fui escravo de galés,
..........(Correntes, suor e dor),
....................Sob o martelar de um tambor...

Líder viking de drakkar,
..........Em terríveis invasões,
....................(Conquistas, pranto, cruéis emoções...)

“O mar, quando quebra na praia,
É bonito”,
aos olhos dos poetas.
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Mas, as tormentas
E as agonias da paixão
Ficam bem longe daqui
..........No mar alto,
....................Onde só os amantes vão.

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Anderson Fabiano
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Trecho da música O mar, de Dorival Caymmi
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Imagem: Google

20/01/2010

Vida e nortes



Vida e Nortes

Gaiola entreaberta,
Sonhos prontos pra voar.
Bússolas sem serventia
Ululam a tua volta.

..........Desejos...
....................Não precisam nomes,
....................Precisam vontades...

Ouça a voz de teu norte
E voa.
Abre tuas asas,
Sem medo, sem zelo,
Sem as vozes de fora

Conserva-te bela
Aos olhos do teu poeta.
Desejo e destino
De teu raro...

Meu norte segue sendo um pouco mais ao sul daqui...

....................Voa, pois, pro teu,
....................Que nos encontraremos,

........................................Uma vez mais...
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Anderson Fabiano.Estas letras foram inspiradas na poesia Isso em mim, publicada no blog REVELLAR, de Helena C. de Araujo e a ela são dedicadas.
Anderson Fabiano

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Imagem: Criação digitalizada pelo autor

19/01/2010

Inúteis sentires



Inúteis sentires

Ando meio às turras,
Com meus prantos.
Percebo-os tão banalizados,
Que questiono,
Permanecer
..........Vertendo-os...
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Anderson Fabiano

Imagem: Getty

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17/01/2010

Marraio! Feridô, sou rei!


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Marraio! Feridô, sou rei!

Temo não ser
A melhor referência de paz.
O vulcão que me habita,
Que me faz raro,
Poeta contumaz,
Me rouba, por vezes,
..........Essa versão de mim.

Talvez, se vissem
O menino descalço,
Soltando pipa,
Jogando gude,
De onde vim,
Soubessem que lá atrás,
Já fui essa paz
..........Que busco, enfim...
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Anderson Fabiano
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Imagem: Google
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14/01/2010

A menina e o amor


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A menina e o amorUm conto contemporâneo.
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Era uma vez uma linda menina lourinha nascida lá pelas bandas das terras do sul. Rostinho de alvura imigrante rosetado pelo sol do campo, emoldurado por cachinhos dourados que em-prestavam candura de imagem de calendário, pra uma essência recém chegada, plena de planos pro amor.

A menina lourinha cresceu acreditando no amor e esperando dele coisas que dariam sentido a sua vida. Os primeiros amores foram mais que compensados. Amor de pai, de mãe, de irmãos, de amiguinhos tão moleques, quanto necessário e tão próprios quanto merece uma infância.

A vida fez a parte dela e a menininha dourada também. Cresceu e foi mocinha sem nunca abrir mão de esperar o amor.

Na pressa de ser gente grande, nem sabe ao certo se a vida já lhe mostrara o tal amor. Mas, ela esperava.

A mocinha então, amanheceu mulher, num outono qualquer. Sempre lourinha, cacheada e esperando o amor. E amor chegou. Sem cavalo branco, sem espadas reluzentes, sem “olhos verdes e fixos” de um Neruda idealizado, nem tão príncipe, muito menos encantado. E a menina lourinha entendeu haver chegado o amor.

O tempo fez a parte dele e a menininha cacheada também. Acreditou em cada amanhã, em cada nascer do sol, em cada beijo recebido, perdido ou roubado... E uma gota de chuva, de uma manhã imprecisa confidenciou-lhe que o amor, aquele que a menininha dourada queria tanto, inda não havia chegado.

A menina, que foi moça e depois mulher, correu sem destino pelos trilhos abandonados pelo velho trem de sua infância mágica, encontrou um tronco seco, sem o viço de outrora, sentou-se sob sua sombra insegura e chorou a ausência do amor.

Acreditando poder encontrá-lo, singrou veredas, atalhos, desvios, supôs-se feliz aqui e ali, contentou-se com átimos furtados de outros amores, que foram seus em jornadas fugazes, sempre sabendo que o tão esperado, inda não havia chegado.

Um dia, o amor chegou! Viera de outras terras, com feições bem diferentes daquelas sonhadas na infância deixada nos campos daquelas terras do sul. Anunciou-se, não foi reconhecido e sorriu-lhe tantas vezes quantas se fizeram necessárias. A menininha, que foi moça, que foi mulher, que pensou haver encontrado o amor, que quase o desacreditou, não soube o que fazer dele.

O amor, então, sentou-se à soleira de sua porta e contemplou a menina dos sonhos distantes. Ela, dourada como sempre, entrou e saiu tantas vezes daquela casa que acabou acostumando-se com a presença do amor sentado à sua porta, sorrindo-lhe todas as manhãs e esperando.

O amor continua lá. Presente, insinuante, lançando seus sinais.

A menina já não corre tanto e empresta um bom tanto do seu tempo praquele estranho. E ele, com sacra paciência, apenas espera pela menininha dourada, que esperou tanto por ele que ainda não soube que seu sonhado amor, finalmente, chegara.
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Anderson Fabiano
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Dedico este conto à brilhante poetisa Helena Chiarello, minha eterna fonte de inspiração.
Leninha, com todo meu carinho, te beijo, então.
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Anderson Fabiano.
Imagem: Getty
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09/01/2010

Sacros sinais


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Sacros Sinais

Contemplo meu templo
E sinto,
Misturados
Aos meus silêncios
Mais íntimos e profundos,
O nascimento de sons
Novos, artesanais,
Vindos de outros mundos
..........E paridos em mim
....................Pelos eus essenciais.

Elevo-me, então,
Diante de espelhos
Que recusavam minhas imagens.
Transcendo meus limites
E envolto em cítaras,
..........Sou santo.

Tântrico, sacro, micro Deus.
Redescubro meus mantras
Reúno mosaicos eus
..........E sei, então,
....................Que valho a pena.

Shehnais e tablas
Elevam o êxtase
Desnudam meu corpo
E você me chega
Após tantas faltas.
Me invade a alma
..........Arranha e me arde
....................Desarruma os chacras.

Sou tigre, macaco
Filho de Baco e você,
Sublime vaca,
Profana meu swadhistana
Com gana,
Como um orgasmo único.
Amalgamados
Sem noção de tempo
..........Somos, enfim,
....................Um só templo.
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Anderson Fabiano
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Imagem: Anouska Shankar
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08/01/2010

Ama teu raro


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Ama teu raro, Helena.
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Vivera tão cercada de amores turvos,
Insossos, sem cores.
Que restara às suas paixões
Deitar-se em versos,
De rara maestria,
..........Na ilusão dos sonhadores.

Traz tuas fantasias
E tuas inseguras certezas
Até o templo de teu poeta
E entrega, sem medo,
Tua alma à paixão,
..........Sem fronteiras.

Poetas transgridem a razão,
Desafiam o previsível
E doam intensidade
A cada gesto ou palavra,
Posto que paixões
Desconhecem a previsibilidade
..........Dos comuns.

Sê rara, portanto,
Devolve as estrelas
Às minhas noites
Que te asseguro o melhor sorriso
..........De cada manhã.
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Anderson Fabiano
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Imagem: Coleção particular do autor. MAC - Niterói - RJ
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