04/12/2013

Sabê-la























Sabê-la

O que importa
Se você sempre “esquece” a chave na porta,
Quando chegamos em casa,
Só pra testar minha atenção?

Pensando bem,
Que importância tem
Você não saber dos seus óculos,
Se posso guiá-la
Pelas veredas de nossos carinhos?

Pra que tanto capricho
Com as dobras da camisola,
Se o que me consola
São os indecentes cochichos
E a redescoberta do corpo
Que você finge esconder?

Que mais poderia querer seu poeta,
Se a poesia brota de seus poros
Quando nosso desejo decreta
A urgência de nossas vontades
E o mundo nos sabe
Em grunhidos sonoros?...

          Mas, nada disso importa!

O que importa,
É que há sempre uma confissão muda,
E mais que confissão, um grito...
          (Com data venia a Neruda)

Pois mais que simplesmente amá-la, Amor,
Te necessito.

Anderson Fabiano

Imagem: Google

05/10/2013

Rascunhos noturnos

















Rascunhos noturnos

Esta noite quero a chuva.
Chuva forte.
Forte, inclemente e barulhenta
Pra ver se aplaco de vez
A fúria da alma inquieta e sedenta.

Não quero a Lua!
A Lua não me serve esta noite.
Pois já tenho a Lua
Deitada ao lado, qual fêmeamada
Linda e nua.

Quero que a noite seja escura.
Bem escura,
Pra que a dor seja intensa,
Genuína e pura.

Quero sentir medo,
Temer angústias e fantasmas,
Dormir acordado
E acordar bem cedo.

E no primeiro Sol,
Desdenhar a morte,
Reencontrar meu norte.
Renascer em seu sorriso,
Reunir meus estilhaços
E me perder de vez
No seu melhor abraço.

Anderson Fabiano

28/02/2013

Deusa, musa e minha


Deusa, musa e minha

Vasculho o Olimpo
Atrás de deusas 
Cujas vestes te sirvam... 
          E nada!

Apenas senhoras esquecidas 
Decrépitas e decaídas. 
Sem serventia aos deuses, 
          Nem aos homens.

Como te sei 
Minha melhor amante, 
Tento Vênus. 
          Qual nada...

Desde Juno, deu-se a tantos, 
Que hoje, qual puta de bordel, 
Jogada entre lençóis encardidos 
Cercada de estrelas amarelecidas. 
Até Dianas, encontro sob seus véus.

          Tu és mais, amada minha!

Diante de um Zeus furioso 
Sou Deus também, 
Desafiador e acintoso 
E crio você 
Como deusa, musa e minha! 
          Amém!

Retorno ao leito humano, 
Contemplo sua inocência de mim. 
E como um herege profano, 
Deito minha boca em teus seios, 
Perco-me em teus cabelos 
E profano o santuário 
          Do teu corpo.

E, no orgasmo longo e devasso, 
Consagro-te, sem nenhum favor, 
Mitologicamente 
Suma, sacra e serena, 
Mas, simplesmente Helena 
          Deusa do Melhor Amor!

Anderson Fabiano

Imagem: Google

30/11/2012

Ecos



















Ecos

Ouço gritos
Paridos nos porões
Da alma conturbada
E corro...

Braços estendidos,
Cúmplices
Que tateiam nas paredes viscosas
Do nada, do sempre, do nunca...

Chicotadas indevidas
Ardem-me nas costas
E a escuridão emoldura
Meu desespero.

Encontro suas mãos
Trêmulas, suadas, com medo,
E seus olhos sorriem
Por baixo da última lágrima.

Cedo meu ombro
Beijo sua boca
E seus gritos são,
Enfim,
Apenas novos gemidos de prazer.

Anderson Fabiano

Este poema se complementa com o poema Mudez, de Helena Chiarello, postado no Revelar.

Imagem: Google

19/07/2012

Confissões














Confissões

.......... Perdoa-me amor 
.......... Se não sei dizer “eu te amo”
.......... Com as palavras que você, talvez, queria...


Talvez sejam os medos
Acumulados nos abandonos pretéritos,
Talvez os segredos 

Urdidos pra te provocar, 
Ou talvez apenas degredos
Inventados por meus erros.


Mas, sei dizer “eu te amo”,
Quando me perco embevecido
Na visão do teu rosto,

Dos teus seios
Ou no passeio matreiro
De meus toques
Em tuas coxas e ventre,
Ou ainda nas poesias
Que não te escrevo.


.......... Isso mesmo: as que não te escrevo!

Perdoa-me, então, amor,
Pois me falta o tempo,
(No tempo que me resta),
Para “fazer” poesias.


Prefiro vivê-las
Nos gestos que nascem em você,
No afago que te doo,
Apaixonado,


.......... E na certeza desse meu jeito de amar
.......... Aqui, ardentemente, confessado.



Anderson Fabiano


Imagem: Acervo do autor