24/03/2011

Olhares de Myra



Olhares de Myra

É como um primeiro silêncio,
Um primeiro olhar,
Um primeiro rosto,
Um saber gostar...

Um pedaço de terra
No papel de areia,
Numa terra distante
Que uma luz candeia...

Ou talvez, quem sabe,
Nos restos de obus,
Última gota de sangue
(Re)velada num capuz...

............... (Ou apenas, talvez,
............... Um sudário moderno,
.................................... Talvez...)

É como um primeiro silêncio,
Um primeiro chorar,
Um primeiro desenho,
............... Um saber olhar...

Anderson Fabiano

Imagem: “Meu primeiro desenho feito aqui”, de Myra Landau. Jerusalém, março/2011. 21 cm X 29 cm. Técnica mista, nankin sobre papel embebido em azeite.

Obrigado, Myra! Sua imagem é pura poesia.
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03/03/2011

Pra você, amada minha

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.......................... "A vida não é brincadeira, amigo.
.......................... A vida é arte do encontro
.......................... Embora haja tantos desencontros pela vida..."

.......................... Samba da Bênção - Vinícius de Moraes e Baden Powell

Dedicado, mais uma vez e perenemente, à minha mulher Helena,
por me permitir, após tantos involuntários equívocos, tirar estas letras do plano abstrato e colocar, finalmente, o nome dela na penúltima estrofe.

Anderson Fabiano



Pra você, amada minha

Guerreiro forjado em batalhas tantas
Repouso enfim, minhas armas.
Deito a lança, aposento a espada
E recostado sobre o escudo
Cicatrizado de embates tantos
.......... Inventario os equívocos.

É doce perceber as missões cumpridas
Numa vida de cruéis enfrentamentos.
Combatente multifacetado
Fui “Maquis”, bolchevique,
Legionário e gladiador.
E até, mercenário.
Mas, samurai de um só Mestre
.......... O Amor.

Vasculho as mazelas,
Garimpo virtudes
E sorrio, enfim:
.......... Amei uma só mulher!
E, ainda que tivesse tantos nomes,
Tantos corpos, tantas caras,
Foi sempre a mesma
Tomada de meus braços,
.......... No minuto final da Atlântida.

Varei séculos
Entre o mitológico e o real
Ouvi todas as vozes
Provei todas as carícias
Beijei todas as bocas
Invadi (nem sempre consentido)
Todos os corpos
.......... E, finalmente, sei de você, Helena.

O amanhã já não importa
Achamo-nos e somos eternos.
Sabemos nossos nomes,
Nossos sons, nossas formas.
E escudados no providencial silêncio
Somos enfim, o prometido par
.......... De outros tempos.

Anderson Fabiano

Imagem: Arquivo do autor

01/03/2011

Ode à Loucura



Ode à Loucura

Não é na Loucura
Que mora a insanidade
Mas, no modus leviano
Com que vivemos
.......... Nossas loucuras.

Na loucura dos Raros,
.......... A centelha essencial.
Sacra, transformadora,
Que põe brilho nos olhos do Poeta
.......... E, na alma louca,
............... A face redentora.

Na loucura dos Medíocres,
.......... O estado bestial.
Personas sem norte,
De Anima animal,
.......... Almas Loucas sem rumo
............... A espera da morte.

Amo ser Louco,
.......... Pois Poeta e Raro!
Mas, pranteio aqueles outros,
Zumbis imprestáveis
Pra quem
.......... Nem a Poesia
............... Dá-lhes suporte.


Anderson Fabiano


Imagem: Google