30/01/2010

Adagas



Adagas
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Sempre tremo,
Quando as letras me chegam muito fáceis,
Rimadas, prontas.
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Não raro,
São acompanhadas de dores lacerantes,
Que desarrumam a alma
E me roubam os sentidos
Das coisas que amo.
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Sobram sós,
............. As poesias.
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Anderson Fabiano
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(Em plena madrugada havia uma voz de mulher me chamando... mas, não confessou seu nome... dormi, então...)
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Imagem: Google

24/01/2010

O amor e o mar




O amor e o mar

Não me venhas falar de amor,
Muito menos de paixão,
Sem confessar, primeiro,
..........As vezes que o mar te tragou.

Paixões são pra corsários
Intrépidos, raros...
Não há espaço pra amadores,
..........Mas, pros amantes sem pudor.

Naveguei muitos mares,
Conheço de alguns,
As armadilhas.
Mas, busco meu cais.
E é lá que faço meu norte,
Enfrentando as tormentas,
..........Que assolam meu casco
..........E me colocam de frente com a morte.

Fui escravo de galés,
..........(Correntes, suor e dor),
....................Sob o martelar de um tambor...

Líder viking de drakkar,
..........Em terríveis invasões,
....................(Conquistas, pranto, cruéis emoções...)

“O mar, quando quebra na praia,
É bonito”,
aos olhos dos poetas.
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Mas, as tormentas
E as agonias da paixão
Ficam bem longe daqui
..........No mar alto,
....................Onde só os amantes vão.

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Anderson Fabiano
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Trecho da música O mar, de Dorival Caymmi
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Imagem: Google

20/01/2010

Vida e nortes



Vida e Nortes

Gaiola entreaberta,
Sonhos prontos pra voar.
Bússolas sem serventia
Ululam a tua volta.

..........Desejos...
....................Não precisam nomes,
....................Precisam vontades...

Ouça a voz de teu norte
E voa.
Abre tuas asas,
Sem medo, sem zelo,
Sem as vozes de fora

Conserva-te bela
Aos olhos do teu poeta.
Desejo e destino
De teu raro...

Meu norte segue sendo um pouco mais ao sul daqui...

....................Voa, pois, pro teu,
....................Que nos encontraremos,

........................................Uma vez mais...
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Anderson Fabiano.Estas letras foram inspiradas na poesia Isso em mim, publicada no blog REVELLAR, de Helena C. de Araujo e a ela são dedicadas.
Anderson Fabiano

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Imagem: Criação digitalizada pelo autor

19/01/2010

Inúteis sentires



Inúteis sentires

Ando meio às turras,
Com meus prantos.
Percebo-os tão banalizados,
Que questiono,
Permanecer
..........Vertendo-os...
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Anderson Fabiano

Imagem: Getty

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17/01/2010

Marraio! Feridô, sou rei!


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Marraio! Feridô, sou rei!

Temo não ser
A melhor referência de paz.
O vulcão que me habita,
Que me faz raro,
Poeta contumaz,
Me rouba, por vezes,
..........Essa versão de mim.

Talvez, se vissem
O menino descalço,
Soltando pipa,
Jogando gude,
De onde vim,
Soubessem que lá atrás,
Já fui essa paz
..........Que busco, enfim...
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Anderson Fabiano
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Imagem: Google
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14/01/2010

A menina e o amor


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A menina e o amorUm conto contemporâneo.
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Era uma vez uma linda menina lourinha nascida lá pelas bandas das terras do sul. Rostinho de alvura imigrante rosetado pelo sol do campo, emoldurado por cachinhos dourados que em-prestavam candura de imagem de calendário, pra uma essência recém chegada, plena de planos pro amor.

A menina lourinha cresceu acreditando no amor e esperando dele coisas que dariam sentido a sua vida. Os primeiros amores foram mais que compensados. Amor de pai, de mãe, de irmãos, de amiguinhos tão moleques, quanto necessário e tão próprios quanto merece uma infância.

A vida fez a parte dela e a menininha dourada também. Cresceu e foi mocinha sem nunca abrir mão de esperar o amor.

Na pressa de ser gente grande, nem sabe ao certo se a vida já lhe mostrara o tal amor. Mas, ela esperava.

A mocinha então, amanheceu mulher, num outono qualquer. Sempre lourinha, cacheada e esperando o amor. E amor chegou. Sem cavalo branco, sem espadas reluzentes, sem “olhos verdes e fixos” de um Neruda idealizado, nem tão príncipe, muito menos encantado. E a menina lourinha entendeu haver chegado o amor.

O tempo fez a parte dele e a menininha cacheada também. Acreditou em cada amanhã, em cada nascer do sol, em cada beijo recebido, perdido ou roubado... E uma gota de chuva, de uma manhã imprecisa confidenciou-lhe que o amor, aquele que a menininha dourada queria tanto, inda não havia chegado.

A menina, que foi moça e depois mulher, correu sem destino pelos trilhos abandonados pelo velho trem de sua infância mágica, encontrou um tronco seco, sem o viço de outrora, sentou-se sob sua sombra insegura e chorou a ausência do amor.

Acreditando poder encontrá-lo, singrou veredas, atalhos, desvios, supôs-se feliz aqui e ali, contentou-se com átimos furtados de outros amores, que foram seus em jornadas fugazes, sempre sabendo que o tão esperado, inda não havia chegado.

Um dia, o amor chegou! Viera de outras terras, com feições bem diferentes daquelas sonhadas na infância deixada nos campos daquelas terras do sul. Anunciou-se, não foi reconhecido e sorriu-lhe tantas vezes quantas se fizeram necessárias. A menininha, que foi moça, que foi mulher, que pensou haver encontrado o amor, que quase o desacreditou, não soube o que fazer dele.

O amor, então, sentou-se à soleira de sua porta e contemplou a menina dos sonhos distantes. Ela, dourada como sempre, entrou e saiu tantas vezes daquela casa que acabou acostumando-se com a presença do amor sentado à sua porta, sorrindo-lhe todas as manhãs e esperando.

O amor continua lá. Presente, insinuante, lançando seus sinais.

A menina já não corre tanto e empresta um bom tanto do seu tempo praquele estranho. E ele, com sacra paciência, apenas espera pela menininha dourada, que esperou tanto por ele que ainda não soube que seu sonhado amor, finalmente, chegara.
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Anderson Fabiano
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Dedico este conto à brilhante poetisa Helena Chiarello, minha eterna fonte de inspiração.
Leninha, com todo meu carinho, te beijo, então.
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Anderson Fabiano.
Imagem: Getty
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09/01/2010

Sacros sinais


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Sacros Sinais

Contemplo meu templo
E sinto,
Misturados
Aos meus silêncios
Mais íntimos e profundos,
O nascimento de sons
Novos, artesanais,
Vindos de outros mundos
..........E paridos em mim
....................Pelos eus essenciais.

Elevo-me, então,
Diante de espelhos
Que recusavam minhas imagens.
Transcendo meus limites
E envolto em cítaras,
..........Sou santo.

Tântrico, sacro, micro Deus.
Redescubro meus mantras
Reúno mosaicos eus
..........E sei, então,
....................Que valho a pena.

Shehnais e tablas
Elevam o êxtase
Desnudam meu corpo
E você me chega
Após tantas faltas.
Me invade a alma
..........Arranha e me arde
....................Desarruma os chacras.

Sou tigre, macaco
Filho de Baco e você,
Sublime vaca,
Profana meu swadhistana
Com gana,
Como um orgasmo único.
Amalgamados
Sem noção de tempo
..........Somos, enfim,
....................Um só templo.
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Anderson Fabiano
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Imagem: Anouska Shankar
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08/01/2010

Ama teu raro


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Ama teu raro, Helena.
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Vivera tão cercada de amores turvos,
Insossos, sem cores.
Que restara às suas paixões
Deitar-se em versos,
De rara maestria,
..........Na ilusão dos sonhadores.

Traz tuas fantasias
E tuas inseguras certezas
Até o templo de teu poeta
E entrega, sem medo,
Tua alma à paixão,
..........Sem fronteiras.

Poetas transgridem a razão,
Desafiam o previsível
E doam intensidade
A cada gesto ou palavra,
Posto que paixões
Desconhecem a previsibilidade
..........Dos comuns.

Sê rara, portanto,
Devolve as estrelas
Às minhas noites
Que te asseguro o melhor sorriso
..........De cada manhã.
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Anderson Fabiano
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Imagem: Coleção particular do autor. MAC - Niterói - RJ
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